segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O trem descarrilou: e agora?



O trem é um meio de transporte composto de uma engrenagem especial, bem como complemento vários vagões são conectados uns aos outros. Sendo este um conjunto de objetos que constituem a bagagem de uma viajante carruagem.

O trem se movimenta e anda sob os trilhos e em um segundo há um bloqueio nesta engrenagem que faz com que esta máquina descarrile...

Assim somos nós: seres humanos compostos de vários órgãos que nos fazem humanos; que temos um funcionamento corpo, mente e espírito maravilhoso, mantemos um funcionamento bio-psico-social saudável o qual circuambula, porque temos inicialmente durante a gestação, o cuidado com a mãe para com o bebê inicia no ventre – a alimentação, exercício físico, o amor, carinho, atenção.



Ao nascer este bebê tem outros cuidados, é a mãe exercendo o papel de mãe, a mãe incutindo em seu bebê o amor, carinho, os cuidados necessários como: amamentar, dar banho, trocar. É dedicar esta maternagem, é ter uma relação EU e TU; neste momento tão especial para mãe e bebê.

Esse bebê vai crescendo e se torna uma criança completa fazendo parte realmente deste mundo.

Lá pelos 5, 6 anos de idade, na idade escolar começa um episódio diferente: É o novo surgindo novamente, agora aparece à escola, a professora, os colegas e esta criança inicia uma nova fase na sua vida. É a fase de se relacionar com a “segunda mãe”. A escola.

Aqui a criança começa a se comportar diferente. O trem descarrilou...

A família percebe que a criança ao chegar no portão da escola começa a chorar, gritar, espernear, que não quer ficar, seja ela levada pela mãe, pai, avó, avô, e tios.
No primeiro dia levam novamente para casa, porque a criança esta desesperada, não quer ficar na escola.
Tentam várias alternativas, contratam transporte escolar, e o choro e à agressão física continuam.

A mãe diz: é a escola, vou transferi-lo. Conversa com o filho e combinam; que a partir da próxima semana você vai estudar na escola Pica pau, ambos concordam.

Chegando o dia combinado começa tudo novamente, choro, gritos... Muda novamente de escola... Tudo novamente.

A família chega no limite e resolve pedir ajuda. Descarrilou o trem...
Conversa com os seus pais e diz: vou procurar ajuda psicológica, porque não agüento mais.

Essa mãe chega ao consultório com o seu filho “P” de seis anos. Eu tenho 23 anos, sou separada do pai dele, moro eu e “P” na casa, no mesmo terreno que os meus pais e minha irmã de 16 anos.
Eu trabalho, a minha mãe cuida do “P” e estou aqui porque ele passou por três escolas.

“P” mostrou-se uma criança, meiga, doce, apática, com dificuldade de expressar seus sentimentos, dificuldade na motricidade fina e inicialmente escolhia vários brinquedos e não brincava com nenhum, só respondia quando lhe era perguntado. Fato curioso: quando mudei de consultório no mesmo prédio, quando entrou na sala disse: Puxa Kelly, aqui tem um mar?

“P” começou a levar alguns brinquedos seus que gostava – carrinhos e cavalos. Ele adora animais e ajudar a avó à fazer doces.
Mora em uma chácara, onde tem espaço para brincar, porém não tem amigos. Brinca sozinho e com seu cavalo Faísca.

“P” foi falando das suas dificuldades, do seu sofrimento e durante o processo terapêutico foi ampliando todo esse “medo da escola”, e suas dificuldades pessoais, sempre trabalhando com os pais e a avó. Na verdade “P” ocupava o lugar de um bebê, era superprotegido pela avó, a mãe mostrava-se ausente e o pai o ignorava.

Quando “P” chegou... Fora do trilho...

O papel de terapeuta neste momento era acolher esse sofrimento, essa dor. A terapeuta precisa pegar essa criança no colo, entender o que esta acontecendo com ela neste momento. É como se agora eu enquanto terapeuta estivesse exercendo o papel de: mãe-terapeuta – é pegar no colo, cuidar com carinho, dar atenção, é nutrir, dar limite, ouvindo carinhosamente esse choro, esse sofrimento, estar junto realmente, nesta relação EU e TU.

Tudo que construía em terapia, acabava destruindo.

Colocava o trem no trilho...

Descarrilava.

E de repente, “P” aprendeu e entendeu que já podia seguir sozinho com o apoio da família.

Construiu um barco de argila e disse: esse barco é forte, bonito, grande e é meu. Sabe Kelly, eu vou jogar essa parte; a âncora, lá em cima do prédio...

A leitura que faço enquanto terapeuta desse menino é que ele estava naquele momento preparado para fazer parte dessa coletividade, interagindo com as pessoas que estavam a sua volta.

Durante o processo terapêutico esse menino, mostrou o desenvolvimento da sua personalidade, inicialmente ambivalente, havia um conflito entre mãe e filho, onde a psique infantil promovia uma polarização do mundo, a separação dos pais do mundo interior do grande redondo maternal, ganhando independência progressivamente, trazendo para fora o que estava sombrio, vivenciando transformando esse sofrimento em luz, em âncora, ou seja, que ele, naquele momento poderia sim ancorar o seu barco ali, e se precisasse poderia voltar.

Ao meu ver; o processo terapêutico ocorre desta forma: algo aconteceu, ocorre um bloqueio, a engrenagem falhou; saiu fora do trilho, descarrilou...
Reorganiza-se essa engrenagem. No humano esses sentimentos, esses comportamentos são redefinidos, transformados para que possa caminhar sob os trilhos novamente, vivendo, ensinando, aprendendo, compartilhando experiências e sendo feliz plenamente.

Um comentário:

  1. ola Kelly ou sinha moça pois é assim que lembro de vc. Preciso muito marcar um horario com vc, pois o meu trem faz tempo que esta fora dos trilhos beijos

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